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Saudade

  • Karine Felipe
  • 12 de mar. de 2014
  • 1 min de leitura

Era uma vez uma corrente e um cadeado que viviam presos um ao outro, selando um caixote de madeira. A corrente não aguentava mais a piada do cadeado – estou amarrado em você! O cadeado não aguentava mais o mau humor da corrente, que não fazia nada para tornar os dias menos quietos, escuros e enferrujados.

Por uma eternidade eles ficaram juntos, mas um dia uma chave penetrou o cadeado, que destravou de supetão e fez a corrente despencar bruscamente sobre ele. O caixote também se abriu e deixou escapar tudo que estava trancado por tanto tempo. Nenhum dos dois conseguia negar que a separação tinha sido dolorosa, mas havia curiosidade na mudança, por isso seguiram sós.

A partir daquele dia, a corrente passou a ser objeto de um locador de cadeados. Ela normalmente era alugada para prender bicicletas e estava conhecendo muito cadeado besta nessa vida. Já o cadeado era usado para trancafiar um carro-forte, mas nem o dinheiro nem a chave-mestra lhe traziam felicidade.

O fato é que ambos sentiam saudade do tempo em que o sol batia em seus metais, fazendo resplandecer o prateado da corrente e o dourado do cadeado. De quando o vento soprava e fazia seus corpos dançarem, tilintando. De quando ainda não havia ferrugem entre eles.

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