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Nota de Repúdio aos 65%

  • Foto do escritor: Liga Experimental
    Liga Experimental
  • 31 de mar. de 2014
  • 3 min de leitura

Quando você anda na rua e é surpreendido por um assaltante, ameaçando sua vida e lhe tomando seus bens, a culpa é do assaltante. Quando você segue corretamente dirigindo o seu carro e é surpreendido por outro veículo irregular que colide com o seu, a culpa é do motorista irregular. Mas se você é mulher, livre, caminhando pela rua, e é surpreendida por um estuprador, que arranca a dignidade do seu corpo fora, a culpa é sua. Porque você estava de roupa curta. Porque você andava tarde na rua. Porque você frequenta lugares suspeitos. Porque você, de alguma maneira, provocou. Porque você existe. Porque você é mulher.

A culpa e a consequência desse pensamento é a cultura do estupro, baseada num prolongamento do patriarcalismo extremista que perdura há séculos na sociedade brasileira. A mulher é um ser submisso, sem vontades próprias, que tem em sua existência apenas a finalidade de servir ao homem, ao lar – e nada mais. E, por ter como finalidade apenas a subserviência ao homem, a mulher deve sê-lo útil ao sexo, sem ser digna de sequer decidir se o quer ou não. O estupro, sob esse pensamento, nada mais é que uma reação natural do homem à provocação da mulher.

Esse pensamento é digno de asco. De repulsa. De vergonha e de frustração. O corpo da mulher pertence a ela – e somente a ela. Não é natural que um homem estupre uma mulher, mesmo que ela se encontre nua à sua frente. Se fosse natural o desejo do homem ao corpo da mulher ser incontrolável, por quê o desejo das mulheres frente ao corpo do homem é algo completamente passível de controle? O desejo é o mesmo. Não faz sentido. E não faz sentido porque nada disso é natural. O nome disso não é instinto natural ou desejo natural: o nome disso é violência. E violência das mais graves. Violência contra todas as mulheres, contra toda a sociedade, violência contra a própria existência. E, como toda violência, deve ser punida e abominada. E nunca, em momento algum, ser tolerada, justificada, ou capaz de permitir que a vítima seja culpabilizada.

A mulher é dona da liberdade dela de se vestir como quiser, de se portar como lhe convier, de frequentar os lugares que forem da sua vontade, de andar na rua a hora que lhe couber. A mulher é livre e também a única dona de suas ações e de seu corpo. Não são as suas roupas e os seus atos que provocam um estupro. É o pensamento de 65% de brasileiros que provoca essa agressão. É o pensamento de 54,9% de brasileiros que perpetua a cultura do estupro, da violência e do desrespeito contra a mulher.

Nós, da Liga, respeitamos a mulher. Respeitamos o corpo da mulher. Respeitamos sua liberdade e repudiamos qualquer ação que prejudique a mulher simplesmente por sua existência feminina. Nós, da Liga, não fazemos parte dessas porcentagens horrendas que a culpam pela violência que sofre. Nós fazemos parte da porcentagem que abomina esse pensamento e que luta contra essa cultura vergonhosa e imoral que agride todas as mulheres. Nós fazemos parte da porcentagem que quer mudar essa sociedade que ataca a liberdade feminina por defender o machismo. Nós queremos igualdade e liberdade plena para as mulheres. Nós repudiamos os 65% e a cultura do estupro. Nós repudiamos essas porcentagens absurdas.

Nós, da Liga, respeitamos os direitos da mulher. Nós as queremos loucas, lindas – e livres.

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