4 amigos e 1 Karim – Parte I
- João Gabriel, Mylena Gadelha
- 13 de mai. de 2014
- 4 min de leitura
Karim Aïnouz é do Ceará, e também do mundo. Nascido na capital do Estado, o cearense, que hoje é um cineasta aclamado internacionalmente, saiu cedo da cidade natal e percorreu várias cidades ao longo de seus 48 anos. Com tantas vivências e experiências assim, parece óbvio que seus filmes, assim como ele mesmo, não fiquem presos a um só espaço geográfico. Em uma carreira curta, Karim retratou personagens do Rio de Janeiro, São Paulo e cidades do interior do Ceará. Em seu longa metragem mais recente, “Praia do Futuro”, Karim aposta em dividir a trama entre dois locais diferentes e significativos para a vida do cineasta: Fortaleza, onde nasceu, representada pela praia que empresta o nome ao filme, e Berlim, cidade onde reside e pela qual nutre grande carinho.
Dividido entre as duas cidades encontra-se Donato, salva-vidas interpretado por Wagner Moura, que, ao não conseguir evitar o afogamento de um turista alemão, acaba afetado por isso e envolve-se amorosamente com o amigo, também alemão, do falecido. Em um drama intenso, Karim coloca, diferentemente dos trabalhos anteriores do diretor, os homens no centro. Contando com elementos ditos masculinos, nas palavras do próprio Karim, “Praia do Futuro” é um filme com “umas coisas meio de macho”. O resultado final é um longa intenso, até angustiante, mas emocionante e delicado. A Liga teve a oportunidade de assistir a exibição para a imprensa,na quarta-feira, 30 de abril. Evento que acabou culminando em um relato dividido em 3 partes, sob o olhar de 4 jovens estudantes.

Pois bem, aqui começa a nossa pequena grande jornada!
No jornalismo é necessário possuir contatos, portanto, este foi o nosso primeiro passo. Pedimos a ajuda aos outros membros da Liga, buscamos telefones e emails a fim de conseguirmos uma entrevista com Karim Aïnouz. Conseguimos mais! Ligamos para os responsáveis pela assessoria de imprensa do filme e descobrimos que poderíamos participar da primeira exibição do filme no Brasil e em seguida, da coletiva de imprensa. Agarramos a oportunidade!
Chegou o dia. Os instantes que antecedem uma nova experiência podem ser assustadores. No caminho de ida, nos questionávamos sobre quais perguntas faríamos, sobre como seria a nossa postura, nos perguntávamos sobre se havíamos feito a escolha certa das roupas. Em momentos de descontração nós ríamos, numa reação ambígua do corpo, que usa a risada para disfarçar o nervosismo.
Chegando no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, a movimentação ainda não era grande. Ficamos do lado de fora observando o movimento. O nervosismo só aumentava à medida que víamos jornalistas experientes, com todas aquelas características que consagram a profissão, alguns com suas câmeras profissionais ao pescoço, os tradicionais bloquinhos de anotação, os óculos que trazem o ar de intelectualidade.
Para a nossa surpresa, ao conversarmos com a assessora de imprensa de Karim, descobrimos que uma entrevista exclusiva seria possível. Ficamos eufóricos. Durante o café da manhã que antecedeu a sessão, conversamos com algumas pessoas que ali estavam e, apesar de tímidos e desajeitados, começamos a nos sentir mais à vontade.
Durante a exibição do filme cada detalhe era importante – as falas, os gestos, os sons, as ambientações. O silêncio era sagrado. O caráter profissional conferiu àquela sessão uma imersão diferente de todas as outras. Ao final, permanecemos sentados, começamos a separar os equipamentos para o momento da coletiva e quando menos esperamos Karim Aïnouz e Wagner Moura entraram na sala de cinema. Foram aplaudidos, cumprimentaram os jornalistas e sentaram-se.
Participaram também da coletiva, o ator Savio Ygor, intérprete do irmão de Donato, Ayrton, quando criança, e a produtora do filme, Geórgia Costa. Wagner, como esperado, foi o mais assediado pelos jornalistas. Nas respostas, o ator falou sobre a complexidade de seu personagem, que não consegue articular seus sentimentos em palavras: “Você entende muito quem ele é mais pelo que ele faz e menos pelo que ele fala”. O ator ainda ressaltou essa característica nos personagens do diretor. “O Karim prima sempre por uma complexidade muito grande (…).Eu arrisco dizer que talvez esse seja o personagem mais complexo que eu já fiz.”
O ator também falou sobre a vontade que tinha de trabalhar com o cineasta. “Eu sou um grande admirador do cinema do Karim. Eu digo isso muito porque é verdade. Eu persegui o Karim pra trabalhar com ele, por mais ou menos uns 10 anos.”.
A vontade do diretor em firmar uma parceria com Wagner não ficou por menos. O cineasta cearense falou sobre a escolha do ator para o papel principal do filme. “Como o Wagner falou, a gente se conhece há muitos anos(…).Wagner me veio muito rapidamente na cabeça, mas a única dúvida que eu tinha era: será que o Wagner vai dar conta de ser um cearense?”
Karim falou também sobre aspectos técnicos do filme. O uso das elipses (omissão intencional de alguns elementos narrativos) era algo novo para ele. Com a utilização dessas , são levantadas diversas questões que não são, necessariamente, elucidadas. “É bonito quando a gente conta histórias no cinema assim, onde nem todas as respostas precisam ser enunciadas, mas elas podem ser sentidas.”,ressalta.
Fazendo um balanço até aquele momento – que seria apenas o começo do dia – , foi uma manhã de primeiras vezes e de todas as sensações que elas trazem. O caráter da incerteza, o descobrimento do novo, as pessoas envolvidas no processo e o alívio que traz a consumação. Assistimos à primeira exibição do filme “Praia do Futuro” no Brasil e participamos da nossa primeira coletiva de imprensa. Porque, no final das contas, não há nada na vida que a gente não faça pela primeira vez.
Mas você está muito enganado se pensa que acabou por aqui. O dia foi longo e este relato também será. Amanhã(14/05) você descobre como partimos para uma entrevista exclusiva com Karim Aïnouz e ainda fica sabendo detalhes especiais sobre o filme.