Liga promove mesa de debate sobre Publicidade Infantil
- Íris Otaviano, Mariane Oliveira e Miguel Cela
- 29 de ago. de 2014
- 3 min de leitura

Aconteceu na noite da última quarta-feira (27), a mesa de debate “Publicidade Infantil – Proibir ou não?”, promovida pela Liga para discutir as novas diretrizes do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) sobre publicidade infantil. Estiveram na mesa a conselheira do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA-CE), Mônica Sillan; a professora Inês Vitorino, do curso de Publicidade e Propaganda da UFC ; e o sócio diretor da Agência de Publicidade Ipsilon, Carlos Bittencourt.
Mônica Sillan começou o debate explicando que a resolução do Conanda nº 163/14, publicada em abril deste ano, não se trata de uma lei, mas tem o propósito de orientar meios de comunicação sobre as formas adequadas de lidar com esse público. “Entretanto, todas as resoluções já lançadas pelo Conanda são levadas bem a sério em todo o cenário nacional”, completa Mônica. Para a conselheira, a resolução veio em um momento oportuno, porém tardio.
Ações protetivas como essa já vêm sendo discutidas e aplicadas em diversos países desde a década de 1970, como lembra a professora Inês Vitorino, também coordenadora do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia (GRIM) da UFC. Ela disse que o próprio Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), apesar de ter sido publicamente contra a resolução, reconhece que algumas questões são relevantes. “Não se deve demonizar nem a publicidade nem os publicitários. Publicitários sérios podem fazer seus trabalhos com ética e seriedade mesmo com essa regulamentação”, declara.
Carlos Bittencourt, também coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza (Unifor), iniciou seu discurso afirmando que publicidade para crianças é algo indefensável. Entretanto, ele acredita que a publicidade, de modo isolado, não tenha tamanho poder de persuasão e que o controle deve ser estendido para a comunicação em geral, como o jornalismo, as telenovelas e os filmes. “Às vezes, acho mais perigoso determinados valores sendo passados em programas de televisão que em propagandas”, declara.

Para Inês, a publicidade voltada ao público infantil com os parâmetros atuais tem um forte papel de estímulo ao consumismo, o que influencia diretamente em suas vidas sociais. “As crianças muitas vezes se sentem extremamente frustradas pois existe um mundo maravilhoso que elas não podem usufruir”, acredita.
Mônica lembra que até mesmo os adultos se deixam influenciar pelas propagandas. Tal influência fica mais evidente para as crianças e adolescentes, pois são pessoas que ainda não estão totalmente formadas em suas escolhas e opiniões. “O que mais preocupa para o adolescente é que se ele não tem um determinado bem ele fica aquém do grupo”, ressalta.
O papel dos pais também foi outro ponto discutido. Carlos acredita que os pais precisam ficar atentos ao que os filhos assistem e consomem, além de preparar as crianças para que elas se defendam desses artifícios de persuasão. “Eu não me abstenho do meu papel de pai”, afirmou. Inês destacou que a intervenção dos pais é necessária, mas que a resolução é fundamental para garantir a proteção da criança.
Apesar da discussão ter sido voltada para o caso publicitário, a proteção da infância deve ser ampliada para toda a sociedade. “Não podemos ficar em cima do muro. Sociedade, Estado, comunidade e os pais são responsáveis pelo o que acontece com nossas crianças e adolescentes”, pontuou a conselheira Mônica Sillan.
A grande maioria daqueles que assistiram a mesa acreditam que o tema é relevante e merece maiores discussões. Bruno Vasconcelos, professor de publicidade da Faculdade 7 de Setembro (Fa7), acredita que “as violações não acontecem apenas na publicidade, mas a gente também tem que pensar a mídia como um todo”. Já Ágda Sarah, estudante de publicidade da UFC e integrante do projeto TVez, considera que “os comunicadores podem colaborar no processo de educação para o uso crítico das mídias”.