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  • Suzana Mesquita

O de comer

É atípico parar e observar ações que são necessárias à nossa vida, como tomar banho, escovar os dentes ou comer. Mas diferente das outras, esta é uma prática que vai muito além de uma necessidade. O ato de se alimentar e todos os processos que o envolvem são um mundo à parte, cheio de significados que perpassam diversos aspectos da sociedade que vivemos.

Para alguns, comida é uma forma de arte. Harmonizar notas de sabores, projetar o design de uma apresentação, conceitualizar o processo produtivo para que o consumidor tenha uma experiência sensorial que vá além do ato de comer. Para outros, a comida nem faz parte do cotidiano. No Brasil, 2,5% da população ainda vive em estado de subnutrição, o que equivale a 5 milhões de pessoas passando fome. Segundo analistas da FAO (Organizações Unidas para Agricultura e Alimentação), o país corre o risco de voltar ao mapa da fome nos próximos anos por causa do aumento nos índices de desemprego, congelamento dos gastos públicos, corte de beneficiários do Bolsa Família e consequente avanço da pobreza.

Para estudiosos, a comida define grande parte da cultura de um povo, provando que da quantidade de tempero que colocamos (ou não) até os instrumentos que utilizamos para cozinhar ou comer dizem muito sobre quem somos e para onde viemos, servindo também como uma forma de comunicação. Já para alguns setores da economia, a comida é um negócio extremamente rentável. O setor de agronegócio, o mais lucrativo do país, representa um terço do PIB nacional, e está concentrado na mão de poucos ruralistas.

Comida também pode ser uma forma de se posicionar de maneira sustentável, através da escolha de alimentos que gastam menos água em sua produção, ou que não são feitos sob tortura ou crueldade a nenhum animal. Comida, para alguns, é sagrado. Parte de um ritual, oferenda, é respeito a uma entidade maior que é presenteada com um bom prato. Também pode representar a própria entidade através do alimento. Comida também é história, do mundo e de cada um. É afeto e lembrança puxada da memória através de um cheiro ou de um ingrediente especial.

Acima de tudo, comida é um direito, presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos e assegurado pela Constituição de 1988. Entender os mais diversos significados que algo tão trivial possui na sociedade é importante para que possamos entendê-la, ressignificando nosso próprio cotidiano de maneira mais consciente e política.

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