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As jornalistas que vieram antes de nós

  • Heloísa Vasconcelos
  • 16 de mar. de 2019
  • 2 min de leitura

Quem vê hoje as redações lotadas de mulheres e rostos femininos estampando os telejornais não imagina o quão difícil foi para o “belo sexo” ganhar espaço na imprensa. Os jornais impressos eram assinados majoritariamente por homens no século XIX, quando esses eram os único tipo de veículo de informação. Os poucos nomes femininos que ousaram escrever apesar da repressão e do preconceito são quase desconhecidos por quem não investe um tempo para pesquisar sobre o assunto. Uma das primeiras mulheres brasileiras que ganhou visibilidade por sua escrita foi Rachel de Queiroz, na década de 1930. Porém, várias outras já lutavam uma luta silenciada muito antes disso.


Aqui no Ceará, o primeiro jornal que se tem registro é o Diário do Governo, que surgiu em 1824. A primeira mulher a escrever na imprensa cearense, contudo, surgiu mais de 50 anos depois. Em 1875, Emília Freitas publicou a primeira poesia assinada abertamente por uma mulher. Se houve outras escritoras antes dela, foi escondido atrás de pseudônimos até hoje não descobertos. Emília publicou três livros, sendo um deles, A Rainha do Ignoto (1899), considerado o primeiro romance de ficção científica do Brasil. Na narrativa, ela conta a história de uma sociedade construída apenas por mulheres, na qual elas podiam ser o que quiserem: médicas, engenheiras e até jornalistas.


A ousadia, à época, foi recebida com maus olhos. As críticas recebidas foram ácidas, e quando muito: a resposta principal foi o silêncio, a pior recepção para uma aspirante a escritora. Isso porque a sociedade do século XIX era extremamente conservadora. O sexo feminino não tinha direito sequer ao voto e em que o analfabetismo abrangia quase toda a parcela de mulheres que não tinham alguma condição financeira. O lugar da mulher era em casa, cuidando da prole de filhos. Nunca na imprensa.


Emília foi semente para outras que surgiram também ainda no mesmo século. Uma delas foi Francisca Clotilde, a mulher que mais publicou nesse período. Francisca começou a publicar com apenas 14 anos de idade, em 1877. Durante a carreira, defendeu a abolição da escravidão e escreveu artigos políticos duros contra a oligarquia Acioly, que tomava conta do poder. Seu primeiro romance foi revolucionário: A Divorciada (1902) chegou ao público 75 anos antes de existir uma lei no Brasil que permitisse o divórcio. Também não foi fácil para ela, que enfrentou julgamentos e teve que desempenhar o papel “de mulher”, sendo mãe, e, ao mesmo tempo, trabalhar em jornais e em escolas, lecionando.


O número de mulheres que ousou ter voz só cresceu desde então. Estamos em 2019 e ainda existem muitas lutas para serem travadas, muitas questões a serem discutidas. Ainda depois de tanto tempo, mulheres ainda sofrem na profissão de jornalista, o assédio é constante. Precisamos, porém, conhecer o que já foi ganho, não sem muito esforço. Só assim podemos ser gratas e tentar, o máximo possível, ser luz para as gerações que ainda virão.


O que podemos nós, mulheres de hoje, fazermos para que em alguns anos homens e mulheres possam realizar o jornalismo de forma mais igualitária?

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