Conhecer o Varandão da Vila, em Fortaleza, foi um grande evento. Convidei algumas amigas para me acompanhar. Todas queriam ir àquele lugar que prometia ser cheio de sapatão. Essa fama surgiu em 2016, quando um áudio viralizado pelo WhatsApp mostrou Danúbia Pinheiro convidando a amiga Mariana para conhecer o local.
A promessa era de cerveja a 8 reais, forró e uma “piscina no meio”. E, claro, o mais atraente: o lugar é “cheeei de sapatão”. O Varandão fica ali na Avenida Osório de Paiva, passa o Frotinha da Parangaba e lá na frente entra à direita, descreve Danúbia no célebre áudio. Basta dar Google para ouvir. Em uma tarde de domingo, fizemos um rápido trajeto do terminal de ônibus do bairro Antônio Bezerra ao terminal do Siqueira; sem trânsito. Chegamos cedo: às 16h30, já estávamos lá — basicamente abrimos o bar.
Os clientes chegaram aos poucos. O número foi aumentando conforme o céu escurecia e a música tocava. O público tímido foi mudando de face. As preocupações pareciam ficar do lado de fora e a única coisa permitida no local era relaxar e curtir o bom e velho forró.
A promessa foi cumprida. O forró durou a noite inteira. As danças se misturam e, mesmo debaixo de chuva, a noite não perdeu fôlego. Ali estavam mulheres de todos os tipos; a maioria delas perseguia um objetivo em comum: a liberdade de, abertamente, ser quem são. Sem julgamentos.
A publicação é uma parte de "Cheeei de Sapatão: Imagens da sociabilidade lésbica em Fortaleza", Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Grasielly Sousa. O livro-reportagem busca explorar a cidade de Fortaleza sob o ponto de vista de mulheres lésbicas.