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Vitória Vasconcelos, Pâmela Rocha e Nicolas Bastos

Diana Berreto - A Princesa do Jangurussu

A Liga se encanta ao observar a periferia de Fortaleza, por meio do olhar da artista Diana Berreto, que leva arte, militância e conhecimento para as comunidades.


Um nome que já fez impacto anteriormente, agora na periferia, DIANA Berreto / Arquivo Pessoal

A arte é uma das formas mais belas por meio da qual conseguimos nos expressar e transmitir mensagens para as pessoas. Diana Berreto se apropria disso, usando os palcos e as câmeras para se comunicar com o público.


A atriz de 23 anos dirige, produz, roteiriza e se dedica completamente às produções de que faz parte. Desde sempre sonhando em atuar e fazer dessa paixão uma profissão, a atriz convive com o teatro há mais de 5 anos, quando começou a ter aulas na Rede Cuca, no bairro Jangurussu, onde mora.


Morando na periferia por toda a vida, Diana sabe o quanto é importante o incentivo à cultura para a comunidade tanto de forma ativa, quanto de forma passiva. Por isso, participa de um grupo de teatro chamado Cia. Breu de Vagalumes (@breudevagalumes), que produz e leva arte para a comunidade, fazendo apresentações em espaços públicos, como o Centro Dragão do Mar, Sesc e nos Cucas espalhados pela cidade.


O espetáculo Persephone no País dos Vagalumes é, para Diana, um dos projetos dos quais ela participou que mais marcou sua vivência no meio artístico. Produzido como uma releitura de Alice no País das Maravilhas, o espetáculo traz a história de Perséfone, uma Drag Queen que está à procura da fama em uma boate. Diana participou ativamente da produção do espetáculo: atuou, dirigiu, produziu, fez roteiro, figurino e maquiagens, coordenando tudo.


Elenco do espetáculo Persephone no no País dos Vagalumes / Douglas Libriano

Ver seu trabalho chegando à comunidade e envolvendo as pessoas, levando arte e conhecimento sobre o mundo trans e a arte das drags, fez com que ela percebesse a importância do espetáculo para que as pessoas entendam mais sobre essas pessoas já marginalizadas dentro da própria sigla, ainda mais em um espaço também marginalizado que é a periferia.


“As pessoas não sabiam o que era a arte de fazer drag, pois as drags não vêm tanto [apresentar sua arte] para a periferia”


Ao comparar as apresentações em espaços mais elitizados (como o Centro Dragão do Mar) com as apresentações que aconteceram nos Cucas (nas periferias), Diana percebeu uma grande diferença na recepção do público. A arte feita por pessoas da comunidade e para pessoas da comunidade faz com que essa troca seja mais fácil, fazendo com que as pessoas se identifiquem com certas temáticas abordadas, o modo de falar e agir que é repassado pelos atores ou apenas elementos das cenas, como o ambiente ou as músicas dubladas pelas artistas.


“Umas vozinhas e uns vozinhos bem legais assistiam a gente e ficavam emocionados com as dublagens de músicas de suas épocas.”


Assim, Diana Berreto continua a crescer, de maneira profissional e pessoal, falando sobre sua vivência como pessoa LGBT e “mostrando que aquilo existia e devia ser mostrado, conversado e, por vezes, até denunciado”. Ao falar sobre o impacto das apresentações sobre as pessoas, Diana emana no olhar a emoção de poder impactar o público. Mesmo quando não consegue colocar os sentimentos em palavras, continua a falar sobre o assunto com paixão e alegria.


“A gente conseguiu chegar a esse pessoal de uma forma boa e positiva. Pra mim, foi um dos impactos mais fortes que me tocam até hoje.”



Elenco do espetáculo com crianças e adultos que fizeram parte da plateia / Douglas Libriano


Projeto Cúpula


Além do espetáculo Perséfone, a companhia de teatro da qual Diana faz parte criou o Projeto Cúpula, pensado de uma forma distópica e futurística, mostrando problemáticas sociais da periferia (homofobia, racismo, transfobia, feminicídio, etc). O nome do projeto veio a partir da ideia de que as pessoas vivem dentro de uma cúpula e que não querem sair, e o espetáculo faz com que a comunidade enxergue além desse espaço em que ela já se encontra.


Com o intuito de transmitir para as pessoas não LGBTQIA+ a realidade das pessoas que pertencem à comunidade e as problemáticas que não são, muitas vezes, vista por pessoas heterossexuais cisgêneras e mostrar que a problemática pode surgir por causa deles, uma vez que parte deles se recusa a enxergar o problema ou não tem acesso a esse tipo de informação, sequer chegando a compreendê-lo. Perceber como isso chegou às pessoas e até fez pessoas que se identificavam com as histórias se manifestarem foi muito importante para ela, pois mostrou que, mesmo com pouco acesso a oportunidades e à informação, é possível fazer a diferença dentro da periferia.

“Me fez perceber que eu posso…”


Tudo isso é possível porque Diana foi atrás dos seus sonhos, de ser ela mesma e de levar para o povo a arte como forma de expressão e como uma paixão. Ao relembrar sua trajetória de vida, a artista descreve como foi difícil ter acesso à informação e se entender na condição de pessoa trans. Aos 13 anos, falou para sua mãe que era gay, pois não tinha conhecimento sobre o mundo trans…


“Eu me assumi gay, mas eu não sou, né? Eu sou hétera, porque eu sou uma mulher trans.”


Quando se assumiu gay, era a única pessoa LGBT em seu meio. “Na época, eu tava meio que sozinha. Eu tive o apoio dessas pessoas que eram meus colegas de classe, no entanto não era do tipo ‘eu te entendo porque também estou passando por isso’, era mais um apoio de ‘vou estar com você porque sei que é difícil’”. E assim continuou por alguns anos, até que descobriu o mundo por meio de documentários, vídeos e figuras públicas, e acabou se entendendo mulher trans.


“Se eu já não tinha informação sobre o L, o G e o B, sobre o T… era escasso, não tinha nada. Eu que fui atrás e descobri tudo.”


O apoio da família, dos colegas e de conhecidos, assim como conhecer e se relacionar com pessoas que fazem parte da comunidade LGBT a ajudaram em diversos passos da transição, que foi fundamental para seguir em frente e ir atrás de seus sonhos. Aos 20 anos, quando já estava no teatro e buscava seguir sua paixão de ser atriz, Diana se assumiu trans e pôde ser ela verdadeiramente, levando alegria, arte e inspiração para as pessoas da periferia onde mora e das periferias por onde passa.


“Depois que a gente transiciona, parece que a gente fica mais radiante. É como se tivesse tirado uma nuvem pesada de cima da gente.”





* O perfil jornalístico de Diana foi um trabalho conjunto de Vitória Vasconcelos - Jornalismo (3º semestre); Pâmela Rocha - Publicidade e Propaganda (1º semestre) e Nicolas Bastos - Publicidade e Propaganda (1º semestre). Os três alunos são integrantes da Liga Experimental de Comunicação e realizaram uma entrevista com Diana para produzir este material.


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